Sem terra demarcada, povo Krahô Takaywrá luta para preservar a cultura no Tocantins

Por Loara Tomaz

Acompanhe a entrevista com Renato Pypcré Krahô, povo Krahô Takawyrá

Nos dias 3 e 6 de junho, o povo Krahô Takaywrá, vai realizadas umas das maiores festas da aldeia, a Festa da Batata (ját jõ Pĩ), um dos rituais mais importantes dos povos Timbira, que simboliza a transição do governo da aldeia, que se altera de seis em seis meses. “Queremos incentivar os jovens a se conectarem com nossas raízes. Essas festas são formas de ensinar, fortalecer e continuar a nossa luta”, destaca Renato Pypcrê Krahô, presidente da Associação AIK – Irom Kam Cô, Associação Indígena Krahô.

Ainda vivendo sem teritório indígena demarcado, os Krahô Takaywrá seguem firmes na luta por visibilidade, dignidade e continuidade histórica da cultural.

Liderado por Renato Pypcré Krahô, o povo Krahô Takawyrá, etnia que ocupa área provisória no município de lagoa da Confusão, tem um objetivo: “preservar a nossa cultura, a cultura do povo Krahô Takaywrá, fazer o resgate da história e promover as nossas festas tradicionais em busca de apoio para manter viva nossa tradição”.

Enquanto aguarda a criação da reserva indígena, responsabilidade da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), os Krahô Takawyrá resistem, buscando preservar a cultura,manter o idioma de origem, e gerar recursos para a produção do artesanato, feito com as sementes naturais do cerrado.

Para Davi Camõc, liderança da aldeia a produção de artesanato é muito importante para a geração de renda, mas o problema é a coleta de frutos e sementes do Cerrado, porque como estão assentados num território ocupado pelo agronegócio, que impulsiona a economia, liderado pela produção do arroz, as plantas nativas estão escasseando.

“Para nós o agronegócio tem deixado um impacto ambiental negativo, é muito desmatamento, uso de agrotóxico, destruindo o solo e acabando com a água dos rios”, lamenta Davi. “Com a escassez das plantas do cerrado fica cada vez mais difícil realizar a coleta de sementes para o nosso artesanto”.

Povo foi expulso de diversas regiões ao longo do século XX

O povo Krahô Takaywrá tem origem no tronco Timbira, ligado ao povo Krahô, que historicamente habitava regiões do Maranhão. A história da comunidade é marcada por migrações forçadas desde a década de 1940, quando seus ancestrais foram vítimas de massacres e expulsões.

Passaram por diversas localidades incluindo a Serra do Carmo e o município de Cristalândia, até se estabelecerem em Lagoa da Confusão. Atualmente, vivem em uma área de apenas um hectare, frequentemente alagada durante as cheias, sem condições adequadas para a reprodução de seu modo de vida tradicional .

“Nossos avós foram obrigados a deixar a região onde hoje ficam as aldeias do povo Krahô”, relembra. Em todos os lugares, apareciam fazendeiros dizendo que eram donos das terras” relebra Renato Pypcré Krahô.

A aldeia, localizada em área de preservação ambiental dentro de um assentamento da reforma agrária, mantém uma escola indígena para que os mais jovens não percam a tradição, os valores e a língu mãe. “Conseguimos trazer um ancião para que Embora seja território de ocupação tradicional, o local ainda não é reconhecido oficialmente como terra indígena, o que torna a situação dos Takaywará incerta e precária. 

Falta de território impede acesso a direitos básicos

Com a ausência de demarcação trazendo impactos diretos à vida cotidiana, a comunidade relata dificuldade para acessar políticas públicas.

“Tudo gira em torno do território. Sem terra, não podemos construir escola, nem posto de saúde. Fica difícil conseguir apoio”, enfatiza  Renato.

No ano de 2024, foram registradas 736 terras indígenas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), abrangendo cerca de 13,75% do território nacional. 

No entanto, segundo levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) realizado no mesmo ano, 255 dessas terras ainda aguardam a finalização de seus processos de demarcação, o que representa aproximadamente 35% do total.

Essa situação afeta diretamente milhares de indígenas que vivem em áreas não regularizadas, enfrentando desafios no acesso a serviços básicos, como saúde e educação, e na preservação de suas culturas. 

A situação também acarreta discriminação social: “Somos vistos com desconfiança até por outros parentes, como se não fôssemos indígenas por não termos território”, lamenta o líder Takaywrá.

A Funai é o órgão do governo federal brasileiro responsável por promover e proteger os direitos dos povos indígenas no país. Sua principal função  é garantir a demarcação, a proteção e o uso sustentável das terras indígenas, além de zelar pela preservação das culturas, línguas, modos de vida e autonomia dos povos originários.

Sem sua atuação, também ficam expostos a invasões de suas terras por garimpeiros, fazendeiros e outros agentes ilegais, enfrentando violência, ameaças e destruição ambiental, além de suas culturas e línguas tradicionais que correm o  risco de desaparecer, configurando um processo chamado de etnocídio.

Reserva indígena Takaywrá está em análise na Funai

Apesar terem se estabelecido há décadas na região de Lagoa da Confusão (TO), os Krahô Takaywrá ainda aguardam a criação de sua reserva indígena. Em 2020, a Justiça Federal determinou que a União e a Funai adquirissem terras para garantir a permanência da comunidade, mas o edital de compra só foi publicado em janeiro de 2024. 

Em fevereiro de 2025, lideranças do povo Krahô Takaywrá reuniram-se com a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, que se comprometeu a formar uma comissão para analisar as propostas e estabelecer um novo cronograma. 

Os Krahô Takaywrá mantêm a esperança de que a reserva será oficializada em breve. De acordo com Renato, o processo de criação da Terra Indígena Krahô Takaywrá já está em andamento na Funai.

Davi TCamôc durante encontro com a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, em Brasília/Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

Explicando mais sobre a tradição e cultura “Takaywrá”, o presidente da Associação AIK – Irom Kam Cô, Associação Indígena Krahô, Renato Pypcré Krahô, disse que o nome Takaywrá foi adotado para diferenciar o grupo dos Krahô do norte, ainda que compartilhem a mesma raiz ancestral.

“Estamos otimistas de que não vai demorar. Esse reconhecimento é essencial para nossa sobrevivência cultural e espiritual”, afirma.

Resistência cultural

Em abril, como parte do Mês dos Povos Indígenas, a comunidade realizou a celebração de festas com a presença de povos vizinhos, como os Krahô-Kanela, marcando o início de um movimento que resgata as festas tradicionais e conscientiza sobre o valor cultural dos povos originários.

A próxima celebração está marcado para acontecer entre 3 e 6 de junho, onde  será realizada a Festa da Batata (Yá-Dião-Pim), um dos rituais mais importantes dos povos Timbira, que simboliza a transição do governo da aldeia.

“Queremos incentivar os jovens a se conectarem com nossas raízes. Essas festas são formas de ensinar, fortalecer e continuar a nossa luta”, destaca Renato.

Saiba mais sobre o Povo Khahô Takaywrá no filme WeWe

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