Por Carolina Azevedo /Calangopress
Amanhã, dia 25 de outubro, a TV Cultura estará exibindo o filme: A vida de Vlado – 50 Anos do Caso Herzog”, jornalista, casado, pai de 2 filhos, que morreu durante um interrogatório no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, no ano de 1975.
Na mesma data, os militares forjaram a cena do suicídio do jornalista, que foi amplamente veiculada no período por jornais no Brasil e no exterior. A morte de Herzog se tornou um marco na luta contra a ditadura e pela redemocratização do Brasil.
A produção narrada pelo jornalista Chico Pinheiro, foi financiada pelo Instituto Vladimir Herzog e será lançada na 49ª Mostra Internacional de Cinema, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e exibido pela TV Cultura a partir das 23h na mesma data.
A obra narra a vida de Vladimir até seu assassinato na década de 70, que se tornou um marco político na luta pela redemocratização no Brasil. Refugiado do fascismo nazista na Iugoslávia, Vladimir migrou para a Itália, e posteriormente para o Brasil, onde atuou como jornalista, professor e dramaturgo.
Resgate dos crimes da Ditadura Militar contra jornalistas (1964-1985)
Durante a ditadura militar no Brasil, jornalistas foram alvos de uma intensa repressão do governo, que incluiu censura, perseguição, tortura e assassinatos à artistas, jornalistas, militantes políticos, deputados, o que ocasionou o exílio de muitos destes.
A repressão buscava silenciar a oposição, além de controlar a informação divulgada à população, grande parte da cobertura inclusive do assassinato de Vlado foi feito pela imprensa internacional.
A censura foi uma das ferramentas mais utilizadas pelo regime militar, obrigando veículos de comunicação a submeter o conteúdo para aprovação das autoridades anteriores à publicação. A imprensa internacional teve uma contribuição importante na denúncia sobre os crimes da ditadura no Brasil.
Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro por não ter investigado, julgado e punido os responsáveis pela morte de Herzog, classificando seu assassinato como um crime contra a humanidade. A versão oficial contada pela ditadura é de que ele teria cometido suicídio, que foi contestada anos depois por um manifesto assinado por mais de mil jornalistas.
Jornais como O Pasquim, que faziam humor e sátira política, foram fundamentais na resistência à censura, utilizando a criatividade para driblar a repressão e a interpretação da crítica e denúncia da ditadura.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) foi um dos mais importantes processos de investigações sobre a Ditadura neste país, que trouxeram à tona evidências e depoimentos no Relatório da Comissão Nacional da Verdade, publicado no dia 10 de dezembro de 2014.
Em 1978 a Justiça brasileira condenou a União pela prisão ilegal, tortura e morte de Vladimir Herzog. Em 1996, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu oficialmente que ele foi assassinado e concedeu uma indenização à sua família, que não a aceitou, por julgar que o Estado brasileiro não deveria encerrar o caso, queriam que as investigações continuassem.
O atestado de óbito, só foi retificado mais de 15 anos depois. O documento foi entregue pelo estado para a família em março de 2013: no lugar da anotação de que Vladimir morreu devido a uma asfixia mecânica (enforcamento), no documento passou a constar que “a morte decorreu de lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório em dependência do II Exército – SP (DOI-Codi)”.
Herzog, não foi o único, mas foi um dos maiores expoentes do jornalismo e da luta pela redemocratização do Brasil nos tempos mais sombrios que nosso país já viveu. Pesquisa realizada para esta matéria, mostra outros jornalistas que foram assassinados pela ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985.
Ieda Santos Delgado, estudante de Direito da Universidade de Brasília (UNB) e militante da Ação Libertadora Nacional (ALN). Aos 28 anos, Ieda desapareceu e seu nome entrou para a lista dos desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira.
Jane Vanini, de Cárceres do Mato Grosso, estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Participou dos grêmios estudantis do colégio e da faculdade, iniciando a sua militância. Na época, Jane também trabalhava na loja Mappin e na Editora Abril, onde conheceu seu marido com quem ficou casada até 1973, o jornalista Sérgio Capozzi
Luiz Eduardo da Rocha Merlino, Nascido em Santos (SP), na capital paulista, passou a integrar a primeira equipe de jornalistas do Jornal da Tarde. Trabalhou na Folha da Tarde, Jornal do Bairro e Jornal Amanhã, este último editado pelo Grêmio Estudantil da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP). Diversos presos políticos testemunharam que Merlino foi conduzido para a sede do DOI-CODI/SP e submetido a sessão de tortura que durou em torno de 24 horas seguidas. Depois de ser retirado da sala de tortura, com fortes dores nas pernas, consequência da longa permanência no pau de arara, Merlino foi abandonado sem qualquer atendimento médico em uma cela da carceragem. Leane Ferreira de Almeida afirmou à CEV-SP que, da cela onde estava presa, viu Merlino, ou seu corpo – não sabe dizer se estava vivo ou já morto – sendo colocado no porta-malas de um carro.
Luiz Inácio Maranhão Filho, Nascido em Natal (RN), Era advogado, professor e jornalista. O ex-médico psiquiatra Amílcar Lobo revelou, em entrevista à revista IstoÉ, que presenciou sessão de tortura de Luiz Ignácio no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOICODI) do I Exército, no Rio de Janeiro (RJ). Alguns anos depois, Marival Chaves Dias do Canto, ex-sargento do Exército e ex-agente do DOI-CODI/SP, concedeu entrevista à revista Veja, publicada em 18 de novembro de 1992, em que revelou que Luiz Ignácio Maranhão Filho foi torturado e morto, com uma “injeção para matar cavalo”, num centro clandestino no município de Itapevi (SP). A denúncia de Marival Chaves Dias insere a execução de Luiz Ignácio no contexto da “Operação Radar”, ação coordenada pelos órgãos da repressão com o intuito de desarticular o PCB e executar seus dirigentes. O corpo de Luiz Ignácio Maranhão teria sido atirado no rio Novo ou na represa de Jurumirim, no interior do estado de São Paulo, perto do município de Avaré. Não foi possível identificar com precisão o local de desaparecimento de Luiz Ignácio Maranhão Filho.
Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior Foi aluno do curso de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atuou como jornalista, tendo exercido o cargo de secretário de redação do jornal Estado de Minas. Na juventude, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, posteriormente, tornou-se membro do Comitê Central do partido. Em meados da década de 1940, assinou o “Manifesto dos Mineiros”, documento que contribuiu para a queda do Estado Novo. Em 1958, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro (RJ). Ali, era responsável pela edição de duas publicações comunistas, Imprensa Popular e Novos Rumos. Esta última foi fechada logo após o golpe de 1964. Orlando da Silva Rosa Bomfim Junior era casado com Sinésia de Carvalho Bomfim, com quem teve seis filhos. Desapareceu no dia 8 de outubro de 1975, em uma operação conjunta das forças de repressão, denominada Operação Radar, cujo objetivo era aniquilar a militância do PCB. Desde essa data, apesar dos inúmeros esforços envidados por familiares e amigos de Orlando, não foi possível elucidar a trama que envolve o desaparecimento desse militante histórico do PCB.
Wânio José de Mattos. capitão da Força Pública do Estado de São Paulo (atual Polícia Militar) e formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Exerceu também a profissão de jornalista e de fotógrafo. Juntou-se à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) em 1969; foi preso em 24 de abril de 1970 pelos agentes da Operação Bandeirante (Oban), reorganizada como DOI-Codi/SP em setembro daquele ano. Integrou o grupo dos 70 presos políticos banidos do país em troca da liberdade do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, indo para o Chile em janeiro de 1971. Quando ocorreu o golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, Wânio foi preso, com a companheira e a filha, e levado para o Estádio Nacional, transformado em campo de concentração, onde, doente, morreu por falta de atendimento médico, no dia 16 de outubro daquele ano.
SERVIÇOS:
A vida de Vlado – 50 Anos do Caso Herzog”, em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, morto sob tortura em 1975. O longa estreia na 6ª feira (24.out.2025), na 49ª Mostra Internacional de Cinema, às 19h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. No dia seguinte (25.out.2025), a produção será transmitida pela emissora às 23h….
Assista ao documentário Produzido pelos 30 anos da morte de Vlado
https://memorialdaresistenciasp.org.br/pessoas/luiz-eduardo-da-rocha-merlino/







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