Com mais de três décadas de carreira, o fundador da Coluna CT fala sobre resistência, ética e o novo projeto CCT+ Independente
Por Jaqueline Braga | CalangoPress
No Tocantins, onde o poder muda de mãos com uma frequência quase cíclica, há quem siga acreditando que jornalismo é, antes de tudo, um ato de resistência. Cléber Toledo, fundador da Coluna CT, é um desses nomes.
Com mais de 30 anos de trajetória e olhar atento sobre os bastidores da política local, ele se tornou uma das vozes mais reconhecidas do estado. Desde o lançamento do seu blog, em 2005, Toledo tem construído uma carreira marcada pela insistência em manter a autonomia editorial, mesmo diante de pressões políticas e econômicas.
Agora, à frente do CCT+ Independente, ele aposta em um modelo de financiamento comunitário, uma tentativa de fortalecer o jornalismo livre e participativo em um cenário cada vez mais hostil à crítica.

“Quero a parceria do público para consolidar o custeio do site sem depender do setor público”, afirma o jornalista.
Cléber Todelo, fala do novo projeto CCT+
Nesta reportagem, o jornalista Cléber Toledo fala ao CalangoPress sobre os desafios de sustentar o jornalismo independente no Tocantins, a pressão constante do poder e o novo projeto CCT+ Independente, que busca aproximar o público do fazer jornalístico e fortalecer a liberdade editorial.
- O que te motivou a seguir o jornalismo como profissão?
Inicialmente, a vontade de ser escritor. Como eu tinha uma vida muito insossa, procurava uma profissão que me desse condições de experimentar as mais diversas situações que estimulassem minha veia literária.
- Quais foram os momentos mais marcantes da sua trajetória até aqui?
São muitos momentos em mais de 30 anos de carreira. O lançamento do meu blog, em 2005, e agora a comemoração dos 20 anos da Coluna CT. Sempre gostei dos momentos de crise, eles exigem mais de nós, como nas trocas de governadores, que se tornaram frequentes no Tocantins.
- Como é sua rotina de trabalho atualmente?
Assim que começo, por volta das 7h30, faço uma leitura dos principais jornais, gravo em vídeo meu resumo das principais notícias de política do dia e análises. Então, olho o que chegou das principais fontes pelo WhatsApp, começo a fazer alguns contatos e a produzir as notas dos bastidores da política do Tocantins.
- Como você lida com críticas e tentativas de descredibilizar seu trabalho?
Não ligo. É muito comum os ataques contra mim, geralmente patrocinados por aqueles que se sentem incomodados com o meu jornalismo. Toda vez que faço críticas mais contundentes, como não podem rebater, usam de outros artifícios para tentar me atingir. No geral, ignoro solenemente e continuo fazendo o meu trabalho.
- Como você enxerga o papel do jornalismo local no fortalecimento da democracia?
Temos um grande problema que é um mercado publicitário extremamente incipiente e pequeno. Isso cria dificuldades editoriais, mas creio que boa parte dos principais veículos têm procurado espaços para fazer um bom trabalho de informação para a sociedade.
- Em algum momento você pensou em desistir da profissão?
Já pensei, sim. Em momentos em que sofri muita pressão do setor político, isso há muitos anos. Mas aprendi a conviver com isso, creio que amadureci como profissional. Hoje estou mais firme do que nunca e mais estimulado a fazer o que eu gosto e o que eu faço há mais de 30 anos, que é cobrir os bastidores da política e fazer análise de cenários. São as 2 coisas que mais me dão prazer em ser jornalista.
- Quais foram os principais desafios para conquistar a autonomia editorial?
Justamente porque o estado tinha uma tradição meio autoritária, que veio do siqueirismo. Eu cheguei aqui no momento de transição, quando esse movimento político já perdia força e o estado se abria mais para a Liberdade de expressão.
De toda forma via uma cultura de que o jornalista tinha que ter um lado. Eu sempre procurei fazer aquilo que eu acreditava, uma hora, claro, desagradava um, outra (hora) desagradava o outro lado. Com o tempo, em meio também a esse novo momento de mais abertura política do estado, o poder local foi aprendendo a conviver com esse tipo de jornalismo mais independente.
- Você já prevê riscos ou resistências à consolidação desse novo modelo?
O principal desafio nosso é convencer o público da necessidade de ajudar a financiar uma ferramenta que eu considero muito importante hoje para a defesa da democracia. Sobretudo, nesse contexto de um estado em que, nos últimos 20 anos, vivemos uma série de absurdos na vida pública que resultaram na troca constante de governador.
Do ponto de vista nacional, temos também o avanço da extrema direita, que é uma enorme ameaça à liberdade de expressão e à liberdade de imprensa.
Acredito que todos os brasileiros precisam dar sua contribuição e impedir que essa onda obscurantista continue se alastrando por todo o Brasil e por todo o mundo. E nosso papel de imprensa é fundamental neste momento. Não é à toa que é justamente o jornalismo profissional o mais atacado pela extrema direita brasileira e mundial, ao lado do judiciário.
10) O que ainda te move a continuar fazendo jornalismo, mesmo com todas as dificuldades?
É uma grande paixão. Como eu disse no início, eu vim para o jornalismo para me tornar escritor. Acabei gostando e, de certa forma, me viciando no jornalismo. Vivo em meio à notícia, trabalhando, na academia, caminhando com meus cachorros e até tomando banho.
Sempre estou ouvindo ou assistindo algum telejornal no YouTube, ou lendo veículos informativos. Acabei deixando de lado a literatura por 15 anos, e só a retomei em 2015, quando voltei a escrever meus contos. Neste momento trabalho meu segundo livro de contos políticos e também um livro sobre o rompimento da União do Tocantins ocorrido em 2005 e 2006.
CCT+ Independente: o público como parceiro
O jornalismo independente nasce de uma inquietação. O modelo tradicional, sustentado por anúncios e contratos públicos, se mostra cada vez mais frágil e politicamente condicionado. No Tocantins, onde a publicidade estatal é uma das principais fontes de receita, a autonomia custa caro. Toledo acredita que a saída está na comunidade: o público como financiador e “cúmplice” da independência.
“A ideia é arrecadar com valores baixos, contando com a consciência coletiva de que o jornalismo é essencial à democracia”, diz.
O projeto prevê conteúdos exclusivos para apoiadores e, principalmente, liberdade editorial.
“Quando faço críticas duras, perco receita. O apoio direto do leitor é um passo para quebrar esse ciclo”, explica o jornalista.
O jornalismo como trincheira democrática
Mais do que um negócio, o jornalismo independente é uma necessidade civilizatória. Em tempos de desinformação, discurso de ódio e polarização, ele assume um papel pedagógico, o de formar senso crítico, educar o olhar público e promover a reflexão coletiva.
O jornalista, nesse cenário, deixa de ser apenas o mediador da notícia para se tornar um educador da democracia, alguém que ajuda a sociedade a interpretar o que está por trás dos fatos. E isso exige coragem: informar sem ceder à lógica do poder, resistir sem cair no ativismo e sustentar a verdade quando ela incomoda.
No Tocantins, essa tarefa ganha contornos particulares. Atuar em Palmas, epicentro político do estado, significa lidar de perto com as pressões do poder e, ainda assim, não se submeter a ele. O mercado é pequeno, as relações são próximas e o custo da independência é alto. Mesmo nesse ambiente, Toledo se firma como uma voz dissonante, que insiste em pautar a política local com rigor e autonomia.
O preço da autonomia
A fala de Toledo é sobre o próprio ofício. Ser independente é aceitar o desconforto como parte da profissão. É compreender que o jornalismo não existe para agradar, mas para lançar luz sobre o que muitos preferem manter escondido.
É, também, entender que a democracia se alimenta de uma imprensa livre, e que cada leitor que apoia esse tipo de projeto contribui para mantê-la viva.No fim das contas, o que Toledo reafirma é simples e necessário: “a liberdade de imprensa não se herda nem se compra, se conquista todos os dias, com ética, teimosia e coragem.” (Cláudio Abramo).







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