A falta de oportunidades no mercado de trabalho foi o tema das entrevistas
Por Loara Tomaz
Estudante do Curso de Jornalismo, Pollyanna Ferreira tem um grande desejo: ser uma jornalista formada pela Universidade do Tocantins e exercer a profissão após a conclusão do curso. Hoje ela está mais perto de atingir este sonho, pois obteve nota 10 após a defesa do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
O trabalho foi a produção de uma série de cinco entrevistas em audiovisual, sobre Mercado de Trabalho para PcDs, orientado pelos professores Carlos Fernando Franco, especializado em linguagem documental e audiovisal e pela professora Maria de Fátima de Albuquerque Caracristi, jornalista.
O desejo da aluna não seria tão difícil de ser atingido se ela não estivesse entre as 338 mil pessoas cegas com 2 anos ou mais de idade, de acordo com o IBGE (2022), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD) no Brasil.
“Sou raiz, venho do rádio, desde muito novinha sou ouvinte, o rádio me representa muito, mas quis ir mais longe e desafiar as técnicas de audiovisual, nessa série de entrevistas”, explica.
O Projeto que tem por objetivo difundir as barreiras que impedem as pessoas com deficiência de serem contratadas para ocupar funções técnicas específicas das áreas que se formaram.
O roteiro conta um pouco da história da Pollyanna, que mesmo tendo efetivado os estágios obrigatórios em emissoras de televisão, e já ter ocupado espaço de trabalho em algumas emissoras de rádio de Palmas, ainda não conseguiu romper o cerco do preconceito, ou do capacitismo.
A estudante, que já atuou como repórter na rádio universitária UFTFM, afirma que ouvir a própria voz no ar pela primeira vez foi um momento marcante — mas também político.
Ao longo da produção do TCC, Polyanna entrevistou seis pessoas, duas delas também cegas, a jornalista Caroline Reis e o funcionário Clairton Thomazi, do Tribunal de Justica do Tocantins.

“As pessoas se jogaram no projeto comigo. Muitas ficaram impactadas de serem entrevistadas por uma pessoa com deficiência visual”.
A banca de avaliação foi composta pelo prof. Dr. Miguel Angel Lomillos especialista em documentários e pela professora Dra. Juliana Abrão da Silca Castilho, que já foi professora da Pollyanna durante a formação do ensino médio no IFTO.
As cinco séries de entrevistas tratam de temas correlatos ao mercado de trabalho, caso das redes de apoio que se foram no Estado do Tocantins para que mães, pais e familiares das PcDs possam defender os interesses dos seus filhos e filhas, exemplo do grupo de WhatsApp Toca das Leoas, idealizado pela advogada Daniella Monticelli, que presta orientação sobre educação e judicialização de problemas recorrentes para os PcDs.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2022, apenas 29,2% das pessoas com deficiência ocupam vagas de trabalho, enquanto o índice entre as pessoas sem deficiência é de 66,4%.
Entre os PcDs que conseguem inserção profissional, a desigualdade também é salarial: mulheres com deficiência recebem, em média, R$ 1.411,77, enquanto os homens ganham R$ 1.637,50, segundo dados do Painel de Informações da Pessoa com Deficiência, do Ministério dos Direitos Humanos.
Polyanna destaca que a autonomia da pessoa com deficiência não se limita a conseguir um emprego, mas depende de uma cidade pensada para todos. “O que adianta ser autônomo se a cidade não tem calçadas acessíveis, rampas, sinalização?”, questiona. Ela aponta falhas comuns, como ausência de piso tátil, falta de sinalização sonora e descumprimento de normas básicas em espaços públicos e privados.
Dentro da universidade, o caminho também não foi simples. Embora tenha contado com o apoio de colegas e alguns servidores, Polyanna relata que muitos direitos só foram garantidos após insistência. “Se eu tivesse que colocar numa escala de 0 a 10, talvez 5. Fiz muitas coisas porque insisti, bati o pé. Muitos fingem que fazem, mas é propaganda enganosa”, afirma. Para ela, faltam políticas institucionais consolidadas de inclusão e acessibilidade.
Apesar dos desafios, a estudante acredita que o projeto cumpriu seu objetivo: comunicar de forma crítica, mas acolhedora. “As pessoas se jogaram no projeto comigo. Muitas ficaram impactadas de serem entrevistadas por uma pessoa com deficiência visual”, diz.
A série foi disponibilizada, hoje, no YouTube do Projeto Inovajor do Curso de Jornalismo, logo após a defesa do TCC. Pollyanna espera que o conteúdo ajude a promover reflexão sobre inclusão de verdade — aquela que começa na escuta e no respeito à vivência do outro. “Daqui a dez, vinte anos, quero ouvir e lembrar do meu processo. Mas o importante é que ficou legal e pode ajudar outras pessoas a refletir.”
Assista a série de Entrevistas Acessibilidade em Pauta.
Fontes utilizadas:
- Pesquisa National por Amostra de Domicílios Contínua 2022 (PNAD Contínua – Pessoas com Deficiência) https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/media/com_mediaibge/arquivos/0a9afaed04d79830f73a16136dba23b9.pdf
- Agência Brasil – eSocial
- Agência Governo/ EBC
- IBGE Agência de Notícias
- Kausa
https://www.kausa.com.br/deficiencia-no-brasil
- JornalistaInclusivo.com
- CBIC
- Entrevista com Pollyana Ferreira







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