Contraposições nas políticas da casa do estudante indígena Kranipi penalizam alunos

Por Flávia Ferreira, para o Calangopress

Mediadora da entrevista coletiva online
Entrevista online realizada pelos estudantes do 4º período do curso de jornalismo com Rogério Xerente; (ex-aluno); Jânio Sawrept Xerente, (aluno de Direito), Fernando Beija-Flôr, (Ecoterra), Carlos Almeida(CMI)

A construção da casa do estudante indígena Kranipi, em Palmas, teve início em 2012 e foi inaugurada em setembro de 2015 na região norte da capital do Tocantins, com o intuito de oferecer moradia específica para estudantes indígenas, dando amparo aos estudantes que entraram na Universidade Federal do Tocantins pela  lei de cotas sancionada no Brasil pela presidenta Dilma Rousseff, em 2012. 

A casa localizada na 605 norte fica distante do campus e além do transporte problemático, os alunos que estudam à noite enfrentam o medo do escuro ao retornar para residência. “Essa questão do transporte causa desânimo para ir em frente no curso, a vinda do ponto de ônibus até a casa é perigoso e algo precisa ser feito” relatou Jânio Sawrepte Xerente, estudante e  morador da casa Kranipĩ. 

A coletiva ocorreu no curso de Jornalismo, no campus de Palmas e versou sobre o Acolhimento e Aprendizagem para alunos indígenas. Jânio mencionou ainda,  que a alimentação é outra situação que o deixou muito triste, pois como estuda no período da manhã, muitas vezes saí sem a alimentação matinal e como o restaurante universitário fica distante da casa, muitos alunos que estudam no período noturno não almoçam pois precisam do vale transporte para assistir aula à noite.     

Sete anos da inauguração da casa, as contradições surgem pondo em risco a permanência dos estudantes indígenas nos cursos de graduação da UFT. Carlos Almeida que é membro do Conselho Indigenista Missionário ( CIMI), explicou que hoje a casa que foi construída com investimento capital de uma fundação filantrópica de Luxemburgo (Alemanha), está negligenciada pela universidade.

A UFT ficou responsável pela manutenção da estrutura, móveis e tudo que envolve a subsistência dos estudante na moradia. “Toda a área em volta da casa está suja, precisando de limpeza dos entulhos, camas danificadas, biblioteca deteriorada, até o gás quando acaba os alunos precisam fazer vaquinha para comprar”. Almeida enfatiza que “o cuidado  da UFT é apenas paliativo”.

Segundo o membro do conselho, há estudantes indígenas diagnosticados com ansiedade em consequência da pandemia da covid 19, os casos foram potencializados durante o período pandêmico, na ocasião, as aulas foram ministradas virtualmente e os estudantes voltaram para suas aldeias, sem acesso à internet, alguns desistiram.

Carlos afirma, que, 2020/2021 foram os anos de maior evasão acadêmica dos alunos indígenas. “ Há calouros indígenas que chegam à universidade com todo gás, toda vontade de estudar, mas, logo esbarraram na falta de estrutura, porque não é só dá o acesso, tem que dá mecanismos de permanência” finaliza, o membro do CIMI. 

O engenheiro ambiental Fernando Beija-flor, destacou que na eleição do primeiro reitor da UFT  já era colocado a necessidade do debate sobre a necessidade de cotas. Fernando, fez parte do movimento que levou indígenas para a universidade, muito antes de existirem as políticas de cotas. “Nosso movimento estudantil marcou a primeira reunião para discutir essas políticas com a participação de indígenas e professores da Universidade Federal, durante os Jogos Nacionais Indígenas de 2003 na praia da graciosa”, disse o engenheiro. 

O Jânio Xerente  frisou, que no convênio de cooperação firmado entre a fundação filantrópica  e a  UFT, ficou acordado que a instituição seria a responsável pela administração, porém lamenta o atual cenário do lugar. “O documento mostra que a casa deveria atender 48 alunos e aqui não cabe esse tanto de gente, na casa só há 08 quartos é necessário que alguma coisa seja feita por parte da universidade”, completou Jânio. 

Para Carlos Almeida “é preciso que todos participem, separar o lixo, fazer o básico nisso as partes concordam, porém as diferentes visões dos estudantes influenciam o cumprimento do estatuto da casa”, finaliza o membro do CIMI. 

A coordenação responsável pela Casa do Estudante Indígena, está vinculada à Proest, que foi procurada, entretanto até o fechamento desta matéria não se pronunciou sobre os posicionamentos. 

Entulho de restos de móveis quebrados
Área externa da entrada da casa Kanapi
Sala de refeição da casa indígena Kanapi

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Um Projeto de Pesquisa e Extensão idealizado para as atIvidades práticas de reportagem, produzido com a participação dos acadêmicos do curso de jornalismo da UFT.

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