Por Gabriela Rossi

Um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que no Brasil, em 2018, 42% das mulheres entre 16 e 24 anos sofreram algum tipo de violência, em sua maioria doméstica. No Brasil uma mulher é vitima de estupro a cada nove minutos, três mulheres são vitimas de feminicídio a cada dia e uma mulher registra agressão sob a Lei Maria da Penha a cada dois minutos. (Fonte: 12º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2018).

Pensando em alertar as meninas, o Ministério Público de São Paulo, junto com a Microsoft criou a campanha #NamoroLegal, que teve seu evento de lançamento no dia dos namorados, 12 de junho. Foi criada uma cartilha com a versão impressa e digital, idealizada pela Promotora de Justiça Valéria Scarance. Ela destaca que o objetivo é justamente prevenir a jovem de chegar a estágios de um relacionamento em que agressões físicas possam ocorrer. A cartilha é dividida em sete capítulos, com sete dicas, sendo uma em cada capítulo.

Quando perguntado a estudante, Louise Simitan, de 18 anos, sobre a importância de cartilha, a jovem que recentemente saiu de relacionamento abusivo, diz ter “gabaritado” a cartilha e que na época não conseguia enxergar o abuso. Ela conta um caso de abuso que sofreu, enquanto namorava há três anos e cinco meses. “Ele falava que eu não era mulher pra ele, que eu não supria suas necessidades e não era madura para ajudar ele com o negocio que queria abrir. Eu sempre fui empurrando com a barriga, achando que isso ia passar e que era só uma fase” conta ela.

Louise relata um episodio em que as coisas saíram do controle. “Teve um sábado que eu ia para o bar dele ajudar no serviço, quando do nada ele começou a falar que não queria mais e que tínhamos terminado. Eu não entendi nada, chorei, fiquei muito mal. Nesse dia minha mãe não estava em casa, estava só eu, minha irmã e o namorado dela, então eu dormi no quarto da minha mãe. No meio da noite eu escuto alguém esmurrar a porta do quarto, quando eu abro era ele. Ele tinha entrado na minha casa sem permissão, eu o mandei sair, mas ele estava muito bêbado, sem camisa e descalço. Ele pegou meu celular e levou embora, falando que era dele e ainda jogou fora meus documentos que estavam dentro da capinha. Eu fiquei desesperada, chamei minha irmã pra me ajudar. Depois de 15 minutos escutei uma buzina. Ele entrou extremamente alterado, falando que eu tinha traído e foi tudo muito rápido. Ele cuspiu na minha cara, começou a me xingar, meu deu um soco no maxilar e começou a gritar que ia me matar. Falou que viu algo no meu celular, mas não tinha nada, eu só conversava com amigas, até porque ele controlava tudo, não me deixava conversar com ninguém, pegava meu celular enquanto eu dormia, se trancava no banheiro para ver, até conversa com a minha irmã ele queria ler tudo. Ele gritava que ia me matar, que eu tinha traído ele, sendo que ele que me traiu antes, mas eu era ingênua e achava que ele fosse mudar. Eu não tive coragem de denunciar, porque ninguém iria me proteger, e ai que ele ficaria com mais raiva e me matava mesmo.”

O musico, Silvio Carreira, de 42 anos, explica que na sua época de adolescente os abusos eram tratados como coisas do cotidiano, pois a cultura do machismo era tão enraizada que as pessoas achavam que era algo normal. “Antigamente não se falava nesse termo, as pessoas nem sabiam o que era um relacionamento abusivo,precisava se tornar algo violento e fora de controle para a pessoa perceber que tinha algo errado. Hoje em dia já tem como identificar, saber o que caracteriza isso e tomar providências, já se sabe o que é um comportamento abusivo, nós já temos como identificar logo no começo para tentar não deixar chegar ao extremo. O que muda hoje é que temos mais informação.”

O bacharel em direito, Matheus Brito, 24 anos, reconhece seu privilegio masculino, como um homem heterocis, de não precisar medir cada passo. “É muito fácil para os homens, nós não temos que tomar cuidado com as ações, pois elas não resultam, por exemplo, em uma eventual morte por agressão, simplesmente pelo nosso gênero”. “Eu acho que todo aquele passo a passo, toda aquela cartilha, é uma coisa simples até de seguir, mas é uma coisa que boa parte das pessoas não seguem, e realmente é um processo, é uma desconstrução, ninguém está pronto, e ninguém nasce perfeito e pronto para viver em sociedade” completa.

A assistente social Monica Brito, de 50 anos, possui uma ONG onde lida com crianças e jovens e é ativista pelos direitos da mulher. Ela fala sobre a questão da autonomia da mulher e da sua liberdade. “Quando ela tem esse encontro com ela mesma, que ela se descobre como um ser humano diferente do homem e não uma extensão do seu corpo, e que ela pensa de uma maneira mais libertadora, isso já começa a diferenciar da mulher que se submete a um relacionamento abusivo, porque na verdade não é uma culpabilização da mulher, é porque temos uma historia de que a mulher tem um papel muito inferior. É a cultura patriarcal que pensa que o homem é um ser iluminado e que a mulher é totalmente subordinada e objeto das decisões do homem.”

“É muito importante as mulheres saberem que elas podem também contar com outras mulheres que já passaram por esses relacionamentos, porque na realidade, relacionamento abusivo é aquele que a mulher não se sente feliz, não se sente plena, pode ser um abuso psicológico, uma violência física, um assédio, toda a natureza que constrange a mulher se trata de um relacionamento abusivo.” explica Monica.

É importante mulheres saberem que não estão sozinhas e não terem medo de se distanciar de uma pessoa que esta sendo abusiva e sempre lembrar que “não somos princesas e não precisamos de um homem para vir com a sua espada e nos salvar, nós mesmas nos salvamos”.

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Um Projeto de Pesquisa e Extensão idealizado para as atIvidades práticas de reportagem, produzido com a participação dos acadêmicos do curso de jornalismo da UFT.

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