Artigo de opinião por Isabela Leão

Quando eu e meus amigos decidimos viajar para Argentina, uma das conversas recorrentes era a de que nós não precisaríamos de muito dinheiro para passar uma semana por lá. Afinal, um peso argentino custando dez reais? Pura ostentação, claro. Fui ciente da crise econômica que assola o país há quase 30 anos, mas não pesquisei mais a fundo sobre o que estava acontecendo por lá neste momento, não estava preparada para o que vi.

É inegável que Buenos Aires é uma cidade linda. A arquitetura que mistura o passado e o presente, e se mostra sempre em renovação, pontos turísticos belíssimos, e o povo – diferente do que ouvi antes de ir – receptivo e prestativo. A ficha começou a cair logo no primeiro dia em solo portenho: em San Telmo, um restaurante que antes era parada obrigatória para turistas fechou as portas por causa da economia. E aí você começa a se perguntar – comoum ponto turístico simplesmente fecha as portas? Pois é.

Mais algumas horas pela cidade, e você começa a realmente a sentir na pele o que eles estão passando. É difícil achar algo que valha menos de 80, 90 pesos. Para nós, brasileiros, é fácil converter e se contentar com o custo alto das coisas, já que 90 pesos por exemplo, equivalem a 9 reais. 9 reais é barato, né?

Mas agora imagina na nossa realidade. Você ganha 1400 reais (valor equivalente ao salário mínimo argentino atual), mas uma refeição em um fastfood custa 150. Uma cerveja com os amigos? Não sai menos que 180. É fácil perceber a situação dos locais quando colocamos nessa perspectiva; assim como entender o porque de, três dias antes da minha viagem, diversos setores da economia entraram em paralisação total por causa dos baixos salários.

Durante os sete dias que fiquei lá, como toda boa turista, caminhar foi uma das minhas atividades favoritas: sair sem rumo pelas ruas, descobrindo lugares e detalhes que passariam despercebidos por outros turistas. Mas, nessas idas e vindas, o choque de realidade é sempre constante. Ao mesmo tempo em que você está ali, se divertindo com seus amigos, tem famílias inteiras, com três, às vezes quatro crianças dormindo em colchões, e às vezes no chão, em um frio de 15°C.

Não me entenda mal, eu sei que “também tem no Brasil”. Eu sou nascida e criada em Recife, então acredite, eu conheço os efeitos devastadores do capitalismo. Mas também estou ciente de que esse choque se deu porque em Palmas, apesar de crescente, o número de moradores de rua ainda é pequeno, se posto em comparação. Além disso, a situação era contraditória. A cidade repleta de turistas dos mais diversos países, com uma quantidade considerável de pessoas vivendo na miserabilidade.

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Um Projeto de Pesquisa e Extensão idealizado para as atIvidades práticas de reportagem, produzido com a participação dos acadêmicos do curso de jornalismo da UFT.

Vinculado ao Núcleo de Jornalismo (NUJOR), o Calangopress funciona como laboratório para as atividades práticas do estágio, supervisionado pela Prof. Dra. Maria de Fátima de Albuquerque Caracristi.