Por Gabriela Rossi
As gerações futuras ouvirão sobre o dia em que os estudantes, em todos os cantos do Brasil pararam para dizer não aos cortes nas federais
Dia 30 de maio será a segunda paralização, de uma luta que teve início no dia 15 de maio de 2019, que certamente entrará para os livros de História. As gerações futuras ouvirão de seus pais, de seus avós e de seus professores, sobre o dia em que os estudantes, em todos os cantos do Brasil saíram às ruas, mostrando para o governo, que não se mexe com a educação.

Os cortes
No final do mês de abril, o governo anunciou que faria o congelamento de R$ 1,7 bi dos gastos das universidades, de um total de R$ 49,6 bi. Considerando todas as 63 universidades, o corte representa 24,84% das despesas discricionárias (água, luz, bolsas acadêmicas, insumos de pesquisa, compra de equipamentos básicos para laboratórios, pagamento de funcionários terceirizados, obras das universidades, etc.) e 3,43% do orçamento total.
Começou no dia 30, quando o ministro da Educação anunciou a redução de verbas de três universidades (UFF, UFBA e UNB), com o pretexto de baixo desempenho e “balburdia”. Depois de muitas criticas, o MEC informou que o bloqueio de 30% valeria para todas as universidades e todos os institutos federais. Para a Universidade Federal do Tocantins, os cortes chegaram a 42%, cerca de R$18 milhões.
Sendo assim, estudantes no Brasil inteiro se organizaram e colocaram nas ruas, no dia 15 de maio um dos maiores atos democráticos dos últimos tempos. Conversei com alguns estudantes, de estados diferentes, para entender mais sobre os atos em suas cidades.
Atos por todo o país
Cáceres e Cuiabá
O estudante de direito da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Vinicius Curti, participou dos atos em Cuiabá e Cáceres, junto com o movimento estudantil do qual faz parte, o “Autonomia Estudantil”. Ele conta um pouco sobre a organização do evento e de como se sentiu ao fazer parte.
“A gente começou primeiro organizando o ato, passou em todas as escolas de ensino básico aqui de Cáceres, e começou a mobilizar. O Autonomia Estudantil é um grupo que eu faço parte, é um movimento apartidário, só de estudantes.Organizamos ato, buscamos o máximo de pessoas possíveis, passando nas escolas, inclusive no IF”.
De acordo com o estudante, o ato em Cáceres teve cerca de umas 600 pessoas, começou às 7h e terminou mais ou menos umas 11 horas.“A gente andou pela cidade e foi muito bonito, porque não era só os estudantes, eram os professores também e um movimento muito democrático”.

No período da tarde, o estudante de direito, foi com o Autonomia Estudantil para Cuiabá, onde acredita que tenham comparecido 5 mil pessoas, o que para a cidade, é muita coisa. “Foi muito louco, tinham uns três carros de som, muita gente, tinha gente da UFMT, tinha gente da estadual aqui do Mato Grosso, tinha gente dos IFs do estado inteiro, tinha gente da educação básica, tinha professor, tinha trabalhador, tinha tudo”, disse entusiasmado.
“A gente caminhou pelas principais ruas, com gritos de ordem e tudo mais. Foi muito bonito de ver, tinha criança, tinha mãe grávida, tinha famílias inteiras indo pra rua, foi muito louco de verdade. Acho que das experiências depois que eu comecei a militar, foi a mais especial”.


Fortaleza
A estudante de jornalismo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Gabriela Moraes, participou do ato em Fortaleza. Ela conta que alunos do curso de história dormiram na universidade um dia antes, para que às 6h horas manhã pudesse acontecer a primeira parte do ato. Os estudantes fecharam as duas principais avenidas perto da universidade, com um cadeiraço (colocando as mesas e cadeiras na rua, para bloquear a passagem). As avenidas ficaram fechadas por uma hora, em horário de pico.
A segunda parte do ato atrasou por conta da chuva “o ato era para ter começado às 8h aqui, só que começou a chover muito, como há muito tempo não chovia, então ele atrasou um pouco, mas quando deu umas 9h todo mundo caminhou aqui do campus do Benfica até a praça da Bandeira que é onde fica a faculdade de direito, mesmo na chuva. Foi muito legal nessa parte, porque estava todo mundo bem empolgado, então a chuva meio que não atrapalhou”.

As organizações estavam dando entre 30 e 50 mil pessoas “tinha muita gente da universidade federal, da estadual, da Unilab, que é uma universidade aqui do Ceará que recebe estrangeiros, enfim, de todas as universidades públicas, tinha muita gente, bem como de universidades e escolas particulares, estava bem lotado mesmo. Muitos ex-alunos de universidades federais, muito idoso, muito professor, eu achei incrível porque tinham muitos professores e quase todos os cursos da universidade aderiram a greve”.
O ato teve a concentração principal na praça da Bandeira e terminou na reitoria da universidade, cerca de meio dia. Gabriela disse como foi a experiência: “pra mim foi uma experiência incrível, de verdade, primeiro porque eu vi que tinha muita gente além dos alunos, não era como o governo falou né, que são alunos militantes manifestando, tinha muita gente de fora da universidade, gente que não era ligada a partido nenhum, que realmente estava defendendo a universidade pública e eu achei isso incrível”.
Gabriela reconhece que as universidades federais estão precarizadas, “ me sinto muito desestimulada, as universidades federais já são muito precarizadas e isso me desestimula, mas eu senti força para continuar lutando, percebo que vale a pena”.

Teresina
Em Teresina, o militante e estudante de filosofia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Francisco Filho, foi às ruas junto com o MUP Piauí (Movimento por Uma Universidade Popular) grupo do qual faz parte. Ele disse que o ato começou com uma concentração em frente ao INSS às 8hs.
“Vimos vários setores da sociedade, setores da Igreja Católica, juventudes dos partidos de esquerda, estudantes independentes e trabalhadores ligados à educação, professores, técnicos.Inclusive o Restaurante Universitário da UFPI não funcionou para que todos fossem.”

De acordo com o estudante, o ato já estava sendo programado desde o da 8, e por conta disso foi muito organizado “fizemos uma longa caminhada pela av. Frei Serafim, a principal avenida da cidade. Várias paradas para dialogar com trabalhadores do grande comércio. Muitas palavras de ordem também. A movimentação teve fim por volta do meio dia em frente ao Palácio do Karnak, onde fica o governo do estado. Sem dúvida foi uma das maiores movimentações que já vi. Justamente por ter tido uma programação de agitação antecipada”.

São Luís
O ex-estudante de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Rodrigo Freitas, está atualmente em São Luís, e conta como foi o ato em sua cidade: “Em São Luís foi imenso! A avenida Beira-Mar foi tomada pelos estudantes e professores. A concentração iniciou as 15 na Praça Deodoro. As 16h já saíram em caminhada até a praça Maria Aragão, depois seguindo por volta de 17h para as praças dos Catraieiros, tudo isso fica no centro da cidade. Não sei ao certo a hora que terminou, porque rolou programação cultural depois. Foi extremamente gratificante ver tanta gente na rua. Todo mundo se uniu (IFs, UFs, particulares, professores, sindicatos), dizendo não aos cortes na educação pública”.


Palmas
Aqui em Palmas a organização do ato se deu por assembleias gerais, da UFT, do IFTO e da Unitins. Na UFT aconteceu no dia 6 de maio. A militante e estudante de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Carol Azevedo, conta que “a organização se deu pelos GTs, GT de mobilização, de cultural, de comunicação e de produção científica. Cada GT ficou responsável por essas atribuições, por essas funções no ato”, explica. “Então a gente teve o estande de produções cientificas que são produzidos na UFT, de cultural tivemos a apresentação da banda ČaoLaru, que é uma banda que, se eu não me engano tem franceses e brasileiros. Teve capoeira, teve palco aberto, apresentações culturais dos próprios estudantes”.

O ato teve início na portaria da UFT. Um grupo de estudantes, junto ao sindicato dos professores, do sindicato dos técnicos e dos terceirizados, se organizaram para fechar o portão da UFT às 6h da manhã. Às 9h seguiram para a Assembleia Legislativa, onde fizeram uma ocupação em frente. Depois o grupo seguiu até a Avenida JK, e finalizou o ato na praça dos Girassóis, em frente ao palácio.







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