Por: João Pedro Gomes

Uma nova concentração para o dia 15 deste mês com protestos de alunos e professores ocorrerá na Universidade Federal do Tocantins, depois dos cortes ­— Ou contingenciamento, como o presidente prefere chamar— nos orçamentos das Universidades Federais, uma sensação de medo e incerteza tomou conta de todos os estudantes e pré-vestibulandos do país.

No Tocantins, os cortes são de 42% (muito acima do valor informado pelo MEC, de 30%), ou seja, mais de R$ 18 milhões do orçamento geral da UFT. O reitor da universidade, Luís Eduardo Bovolato, informou que a equipe responsável fez os cálculos, e a instituição só tem condição para se manter ativa por mais dois meses.

Entrevistamos professores e alunos para saber o sentimento gerado por essas medidas.


Valquíria Guimarães – Coordenadora Dra. do curso de Jornalismo

“Um corte nesta proporção vai impactar o nosso dia a dia na UFT. Não haverá dinheiro para projetos de pesquisa e extensão, assim como para despesas de água, luz e os contratos terceirizados. Como vamos ministrar as nossas aulas com salas sujas, por exemplo? É lamentável pensar que a educação no nosso país não é prioridade.” Valquíria Guimarães, coordenadora do curso de Jornalismo na UFT.

Professora Ana Lúcia Pereira – Professora Dra. do curso de Direito

“Esse corte afeta diretamente a juventude negra brasileira, que conseguiu ter acesso à Universidade nos últimos doze anos devido às políticas de ações afirmativas, que aconteceram ao longo desses anos. À medida que temos o corte das bolsas de pesquisa ensino/extensão, a Universidade não poderá dar sequência às pesquisas que têm sido feitas, que são pesquisas que trazem retorno direto para a sociedade em geral.

No caso específico do Tocantins, 72% da população é preta e parda e essa população está em um dos estados mais empobrecidos do Brasil. No sentido corte de verbas, nós tínhamos um investimento bem grande no que tange a formação de professores aqui do estado, que a maioria dos professores da educação básica não tinha a formação superior, e a UFT estava com um programa de formação desses professores. Também existem os alunos que fazem curso à distância na UFT, por conta das dificuldades encontradas por eles para ter acesso ao curso presencial. À medida que tem o corte de verbas, não teremos acesso aos equipamentos para atendermos esse grupo de pessoas. Para além disso, também vemos a possibilidade de pensar, debater e trazer as questões mais polêmicas, fazer uma formação diferenciada, que possamos ver além daquilo que está à sua frente. E acredito que esse corte vai causar um desmonte na universidade. Desemprego, nem se fala, perdemos funcionários terceirizados, e isso vai impactar no nosso trabalho. Eu, particularmente, como professora de sociologia, me vejo ameaçada, por conta dessa compreensão equivocada que a sociologia e filosofia não trazem retorno para a sociedade, que não é verdade. Um retorno não é exatamente aquilo que o capitalismo entende, um produto. Quando produzimos ideias, pensamentos, conhecimento, isso faz com que as pessoas estejam livres para criar, e o ataque direto à essas disciplinas, esses cursos, é extremamente grave.

Gabriela Santos – Aluna do Curso de Jornalismo

“Da minha perspectiva, é uma medida completamente absurda. Ele está sucateando algo que já estava sucateado, com o intuito de privatizar isso futuramente, e sabemos que, caso as universidades sejam privatizadas, só quem vai permanecer aqui, é quem conseguir pagar, que não é o pobre negro”.

Guilherme Gandara – aluno do Curso de Jornalismo

“Eu acredito que essa medida tomada pelo governo Bolsonaro apenas nos faz retroceder, porque educação é um direito básico que deveríamos ter, temos que ter. E agora temos que lutar por esse direito básico, que é a educação.”

Karina Custódio, estudante do Curso de Jornalismo.

“O corte na educação é um projeto que já vem sendo feito desde o governo Temer, que é uma estratégia não só pra sucatear e diminuir o acesso à educação de todos os grupos minoritários, mas principalmente para abrir caminho para a educação privada. A gente sabe que no governo do Bolsonaro tem grandes acionistas da educação à distância que estão intimamente interessados que as universidades públicas, que são as que lideram o ensino e a pesquisa no país, deixem de existir.”

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Um Projeto de Pesquisa e Extensão idealizado para as atIvidades práticas de reportagem, produzido com a participação dos acadêmicos do curso de jornalismo da UFT.

Vinculado ao Núcleo de Jornalismo (NUJOR), o Calangopress funciona como laboratório para as atividades práticas do estágio, supervisionado pela Prof. Dra. Maria de Fátima de Albuquerque Caracristi.