Por Sarah Melisa
O Aterro Sanitário de Palmas, que em 2014 foi considerado modelo da região Norte pela Revista Limpeza Pública, passa por dificuldades financeiras. O economista responsável pelo aterro, Adeluzio Azevedo, afirma que o dinheiro disponibilizado pela prefeitura é muito inferior ao necessário para a perfeita operacionalização do local, que segundo ele precisaria de no mínimo R$ 3,5 milhões por mês para funcionar corretamente, mas recebe apenas R$ 50 mil.

“Nós já temos quatro células, como são chamadas as áreas onde o lixo é aterrado, encerradas que precisam de uma cobertura vegetal”, afirma o economista. De acordo com Aurélio Picanço, professor de Engenharia Ambiental da UFT, a cobertura vegetal serve principalmente para “minimizar os efeitos da erosão eólica e hídrica, evitando assim que possam haver fissuras (trincas) na camada da cobertura e infiltração de água da chuva na massa de lixo, que geraria mais chorume e riscos de infiltração no solo”. Infelizmente, as fissuras já podem ser vistas por cima das células encerradas do aterro.
O local também está precisando de uma cerca para evitar a entrada de animais pequenos, segundo Adeluzio, a área do aterro precisa ser cercada por uma tela galvanizada. “De vez em quando aparece cachorro aqui e não pode”, diz o economista.
Outra obra necessária é o sistema de captação de gases provenientes do aterro. “Já produzimos muito gás e estamos jogando esse gás na atmosfera”, alega. Para Adeluzio, o ideal seria a geração de energia, mas se houvesse pelo menos a queima dos gases, conhecidos como biogás, a poluição atmosférica já diminuiria em 28%.

O professor Aurélio Picanço afirma que “o biogás é constituído principalmente de metano, que é um gás causador de efeito estufa. A sua queima deve ser feita para transformar o metano em gás carbônico que é menos efetivo como causador de efeito estufa”.
O monitoramento das águas subterrâneas e das lagoas de tratamento do chorume também não está sendo feito por falta de orçamento, apesar da importância dessa atividade para garantir que não há contaminação no lençol freático. Além disso, o aterro necessita da implantação de alguns equipamentos de monitoramento como piezômetros, que são aparelhos utilizados para monitorar os níveis da água nos aquíferos e pluviômetros, dispositivo que medem o volume das chuvas.
O aterro
O aterro é localizado a 26 quilômetros do centro da cidade e atualmente recebe 270 toneladas de resíduos por dia. Azevedo, garante que a cobertura do lixo é feita diariamente, como recomendado nas normas ambientais.

Ainda assim, durante o intervalo de tempo entre o despejo do lixo, sua compactação e a espera pela camada de cobertura, o odor dos resíduos expostos atrai urubus. Essas aves em contato com o lixo podem se tornar vetores de doenças, representando risco para a saúde dos funcionários do aterro e do restante da população.

A lei nº 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), foi estabelecida em 2010 e determinou que até 2014 os aterros não controlados deveriam ter sido substituídos por aterros sanitários, considerados destinos adequados para os resíduos. No entanto, com o fim do prazo, apenas 40% das prefeituras haviam conseguido se adequar à lei e a data final para o cumprimento da política foi estendida para 2021. Palmas está dentro das normas.
Na capital, o Aterro Sanitário de Palmas foi instalado bem antes da criação da PNRS, em 21 de novembro de 2001. Foi nesse ano que, após a inundação do antigo aterro devido a construção da barragem da Usina Hidrelétrica de Lajeado, um novo aterro foi criado dentro da área do Projeto de Assentamento São João. De acordo com a prefeitura, em 2009 o lugar era considerado modelo nacional e contava com todas as tecnologias para cumprir as especificações ambientais exigidas.
No entanto, apesar de contar desde sua criação com uma manta de polietileno de alta densidade para impedir que o chorume contamine o solo, o aterro foi alvo de muitas denúncias ao longo desses dezessete anos de existência. Em 2012, uma vistoria feita pelo Ministério Público Federal constatou a persistência de várias irregularidades no aterro, como a falta de cobertura do lixo, a exposição de resíduos hospitalares, o vazamento de chorume e a iminência de erosão da superfície do aterro.
Neste mesmo ano, os moradores do São João I, alegaram sofrer com o forte odor proveniente do local e com a presença de moscas e urubus. Além de reclamar das doenças respiratórias causadas pela poeira levantada pelos caminhões de lixo e da contaminação da água e do solo, que estaria trazendo problemas de saúde tanto para as famílias quanto para suas criações de animais.
Apesar de todas as dificuldades, o Aterro Sanitário de Palmas superou a fase em que parecia um lixão. O lixo hospitalar não vai mais para o local, como previsto pela PNRS esse tipo de lixo é de responsabilidade dos hospitais e dos estabelecimentos de saúde, aqui na capital ele é incinerado, tratamento permitido pela PNRS.
No entanto, o aterro modelo na região Norte ainda tem uma longa caminhada antes de se tornar motivo de orgulho para os palmenses e cabe aos próprios palmenses reivindicar as melhorias necessárias junto à prefeitura. “Nós somos a parte mais importante de Palmas, desde o visual até a saúde, a cada U$ 1 que você gasta em saneamento básico você economiza U$ 5 em saúde. Se a gente tivesse apoio, veriam que show estaria esse aterro”, finaliza o economista.
Segundo Adeluzio, nas quatro células encerradas foram aterradas 1 milhão e 100 mil toneladas de lixo. João Marques, engenheiro responsável pelo lugar, afirma que o aterro tem previsão para durar apenas 30 anos e que “a população pode ajudar produzindo menos lixo e o poder público, implantando efetivamente a coleta seletiva”.






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