HIV/Aids: Preconceito que marca e mata

Declarações de novo ministro da saúde colocam em cheque trabalho de quem salva vidas por meio da informação

Por Marcelo Horst

Luiz Mandetta / Divulgação

“Sexualidade é uma questão para ser tratada dentro de casa”. Essa foi a resposta de Luiz Mandetta, futuro ministro da Saúde do presidente Jair Bolsonaro, quando questionado sobre as campanhas de prevenção ao HIV/Aids em escolas e postos de saúde.

Para Mandetta, as campanhas que incentivam o uso de preservativo e a testarem regular são “pouco eficazes”. A entrevista foi divulgada uma semana antes do Dia Mundial de Luta Contra a AIDS (1° de Dezembro)

A declaração, dada ao jornal O Globo no dia 25 de novembro, foi recebida com preocupação por especialistas e militantes da área da saúde.


Vivendo com HIV

Foi a descoberta de sua sorologia que levou Lucrécia Borges (23) a dedicar a vida a levar informações sobre a doença.

Foi com a aceitação do meu diagnóstico de HIV+, e outras histórias de superação, que me levaram a militar na causa e assim ajudar os outros”, afirma .

Mulher trans e moradora do município de Wanderlândia, Lucrécia percorre o país palestrando e levando informação sobre HIV/Aids.

“A fala do ministro foi frustrante. Ela desmerece tudo que tem sido feito, o que não é um trabalho fácil. Só a informação pode prevenir novas infecções e mortes por Aids”, concluiu.
Lucrécia é licenciada em geografia pela Universidade Federal do Tocantins e secretária da Atrato – Associação de Travestis e Transexuais do Tocantins.

Vinicius Borges (31) é médico infectologista do Núcleo de Atendimento Henfil de Palmas e também idealizador do personagem virtual “Dr. Maravilha” onde leva informações sobre saúde e fala bastante sobre doenças sexualmente transmissíveis.

“Decidi criar o canal de informação quando fazia a residência médica. Via gente tratando HIV há 3 anos e ainda separando talheres. Mãe que não sabia que a filho/a soropositivo podia usar o mesmo vaso sanitário. Isso me motivou a levar informações para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas”

Ele também recebeu com tristeza a fala do futuro ministro.

“Foi uma declaração infeliz. Pela primeira vez em 3 anos a mortalidade por Aids caiu. Cerca 80% das pessoas que possuem o vírus tem conhecimento de sua sorologia, tudo isso graças aos Movimentos Sociais e campanhas de informação”, completa.

Ainda segundo o médico, o diagnóstico não representa o fim da vida. “Os sonhos continuam. Com o tratamento adequado, a pessoa pode se relacionar, constituir família, ter filhos. Importante lembrar que nesses casos, o que mata é o preconceito e a falta de informação. Por isso a importância das campanhas”, completa.

A vida de Rosana (40, nome fictício) foi marcada pelo preconceito. Vivendo com HIV há 20 anos, a funcionária pública precisou mudar de estado graças ao preconceito.

“Contraí HIV de um ex- namorado que veio a falecer de AIDS. Como morávamos em uma cidade pequena, logo a notícia de minha sorologia se espalhou. As pessoas passaram a me evitar, fui demitida. Deixei tudo pra trás e vim para o Tocantins tentar uma nova vida, isso no fim da década de 90. Foi muito sofrido”.

Para ela, quanto mais informação sobre o assunto, melhor. “É com essas campanhas que as pessoas vão entendendo  HIV não é uma coisa distante. Elas não podem parar. Combater o preconceito é muito importante para que casos como o meu jamais se repitam”, afirma.



HIV Tocantins

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, em 2018 foram notificados 335 novos casos de infecção por HIV no Tocantins, maior número desde 2014.

No entanto os casos de Aids caíram 50% em relação a 2017, o que denota que as pessoas têm se testado de evitado que a Aids se desenvolva.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Palmas, 1.044 pessoas vivem com HIV na capital. Estima-se que no Tocantins inteiro, mais de 3 mil pessoas vivem com HIV.

Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, em 2018 foram notificados 335 novos casos de infecção por HIV no Tocantins, maior número desde 2014.



Teste-se

Em Palmas, a testarem rápida de HIV e outras DSTs podem ser realizadas no Núcleo Henfil, localizado na 404 norte, alameda 14, lote 3.

No entanto, todo posto de saúde, pronto atendimento, centro médico e hospital estão habilitados a acolher e dar encaminhamento para o teste, de forma sigilosa e gratuita.

Em Palmas, a testarem rápida de HIV e outras DSTs podem ser realizadas no Núcleo Henfil.





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Um Projeto de Pesquisa e Extensão idealizado para as atIvidades práticas de reportagem, produzido com a participação dos acadêmicos do curso de jornalismo da UFT.

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