Por Lys Apolinário
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo. No país, mais de 26 milhões de toneladas de alimentos são descartados todo ano.
O desperdício começa na produção, passa pelo transporte, pelo estoque, pela sua cozinha e vai até o descarte. A preocupação com uma alimentação sustentável é responsável não só por evitar o desperdício e economizar os recursos naturais do mundo, mas também por garantir que você se alimente de forma saudável e segura.

A maior parte dos alimentos se perde no transporte, entre as plantações e a comercialização. No entanto, os consumidores podem tomar uma série de atitudes para reduzir o desperdício e impactar positivamente esse ciclo. Planejar as compras é o primeiro passo. É importante observar a proporção de consumo para cada alimento na sua casa, para que a comida não apodreça na geladeira ou vença na despensa.
A assistente social, Sheila Reis, conta que prefere ir às compras mais vezes do que armazenar muito alimento, que poderá apodrecer. “Dessa forma eu economizo meu dinheiro e os recursos da natureza”. Outra boa dica é escolher as frutas e verduras feias, que ninguém pega.
Segundo dados da cooperativa Fruta Feia, de Portugal, a busca por frutas de aparência perfeita é responsável pelo desperdício de 30% dos alimentos cultivados por agricultores portugueses e 40% dos alimentos cultivados em toda a Europa. Em cidades como São Paulo já existem iniciativas para distribuir as frutas que ninguém quer por um preço mais acessível.
Além de dar preferência às frutas feias, comprar alimentos diretamente de produtores locais também é uma opção eficiente para evitar o desperdício. Isso porque, em muitos casos, o armazenamento dos alimentos dentro dos caminhões não é ideal, assim, eles acabam chegando danificados ou com uma aparência feia e são rejeitados pelos compradores. Ao consumirmos de produtores da região, o trajeto percorrido pelo alimento é menor e há mais chances de o produto chegar em segurança.

Outra dica importante é o consumo de orgânicos. Segundo um estudo divulgado pelo Rodale Institute, a produção de orgânicos economiza 45% de energia e gera 40% menos gases de efeito estufa. Além disso, a questão do agrotóxico é preocupante não só pelo desperdício de recursos naturais e pela contaminação do solo e do lençol freático, mas também pela intoxicação de pessoas.
Segundo um estudo realizado por Larissa Bombardi, pesquisadora do Laboratório de Geografia Agrária da USP, o Tocantins está entre os estados com maior número de pessoas intoxicadas por agrotóxicos. Para fugir da contaminação, o ideal é consumir produtos orgânicos da estação, que contém mais nutrientes e precisam de menos recursos para serem produzidos.
A professora do Curso de Jornalismo da UFT, Valquíria Guimarães, diz que compra produtos orgânicos por serem mais saudáveis. “Não sabemos o que os agrotóxicos fazem no nosso organismo. Então prefiro consumir frutas, vegetais e hortaliças sem a utilização de qualquer produto dessa natureza”. A professora conta também que gostaria de consumir mais produtos orgânicos, no entanto, o preço alto é um desafio para a incorporação desse hábito.
Outra opção alimentar que contribui com a sustentabilidade, mas que pode ser desafiadora para algumas pessoas é a redução do consumo de proteína animal. Segundo a Sociedade Vegetariana Brasileira, o Brasil possui o maior rebanho de gado comercial do mundo. A cada segundo, um pedaço de floresta do tamanho de um campo de futebol é devastado para produzir o equivalente a 257 hambúrgueres.
De acordo com dados disponibilizados pela Sabesp, para a produção de um quilo de carne são necessários 17.100 litros de água, enquanto os alimentos de origem vegetal precisam de bem menos água para serem cultivados, um quilo de arroz precisa de 2.500 litros de água e um quilo de banana, de 499 litros.
Além disso, Marco Springmann, pesquisador da Universidade de Oxford, calcula que se todos os seres humanos se tornassem veganos até 2050 a redução na emissão de gases de efeito estufa pela produção de alimentos seria de 70%. No entanto, se tornar vegano, o que implica em parar de consumir todos os produtos de origem animal, pode ser problemático quando não se busca informação.

Em entrevista à BBC, o presidente da Sociedade Espanhola de Nutrição e Ciências da Alimentação, Jesús Román, disse que a dieta vegana deve ser adotada quando se tem conhecimento suficiente para isso. A pessoa deve saber como se alimentar corretamente para suprir suas necessidades nutricionais sem esses produtos.
Um bom exemplo disso é o caso da proteína. “A proteína é um elemento chave na dieta de uma pessoa. Para se obter proteína de qualidade em uma dieta vegana, é preciso misturar diferentes alimentos, cereais com legumes por exemplo”, afirma Román.
Já a dieta vegetariana, que exclui apenas carnes, é menos restritiva, mas ainda pode ser desafiadora para algumas pessoas. A nutricionista Paula Beatriz aponta para as dificuldades de conseguir se adaptar aos novos sabores e texturas da dieta e para o desafio de encontrar opções e apoio em uma sociedade que ainda consome muita carne. Assim, se você acha que ainda não está preparado para deixar de consumir alimentos de origem animal, tente aderir ao movimento Segunda Sem Carne, o impacto positivo já será grande.
Para as pessoas que pensam em adotar uma dieta vegetariana, mas não sabem onde conseguir proteínas, uma boa opção são as microalgas. Elas são ótimas fontes de vitaminas, minerais e proteína de alta absorção.
O mais interessante é que a produção desse alimento necessita de poucos recursos e quase não gera lixo, possibilitando uma produção em grande escala com baixo impacto ambiental. Aqui em Palmas você encontra microalgas como spirulina, rica em proteína, ou chlorella, que tem alto poder desintoxicante, em lojas que vendem produtos naturais.
Para finalizar o ciclo da alimentação sustentável, é importante que o consumidor não se esqueça também de estocar os alimentos da forma correta, já que isso prolonga sua durabilidade. Além disso, é interessante ainda aprender novas receitas que utilizam cascas, sementes, folhas e talos, essa atitude ajuda a reduzir o desperdício e aumentar a saúde.
Segundo dados do Banco de Alimentos, o talo da salsinha tem 181% mais fibras, 0,64% mais cálcio e 12% mais potássio que as folhas. Já a semente de abóbora está entre os alimentos mais ricos em magnésio, além de conter manganês, cobre, zinco e proteínas. Você também pode aproveitar as folhas do rabanete em um suco verde, por exemplo, elas contêm mais nutrientes e fibras que o próprio rabanete.
Ainda assim, é muito difícil ter uma alimentação que não gere nenhum resíduo e é por isso que a última atitude para uma alimentação sustentável deve ser a compostagem. Segundo o Instituto Akatu, por volta de 58% do lixo domiciliar gerado durante um dia é formado por resíduos orgânicos.
De acordo com o engenheiro ambiental Lucas Chiabi, quando o lixo orgânico chega ao aterro sanitário, ele atrai vetores, emite gases de efeito estufa e gera um chorume altamente tóxico, que polui os corpos hídricos. A compostagem é o processo de transformação de matéria orgânica em composto ou adubo orgânico. Aqui em Palmas temos duas alternativas, ou compostamos em casa, utilizando uma composteira doméstica, ou pagamos por um serviço particular.







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