Jessica Rosanne

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Testemunho históricos, pontos de vista diversos sobre a organização política das mulheres negras nos últimos 30 anos e análises da conjuntura da participação delas na sociedade foi realizada por ativistas negras de diferentes gerações no dia 20 de outubro em Palmas.

 

O encontro é fruto das ações e energias geradas pela Marcha Nacional das Mulheres Negras Contra o Racismo, a Violência e Pelo Bem Viver – realizada em novembro de 2015.

Neste evento, houve troca de experiências, discussões pertinentes sobre a conjuntura política e como a mulher negra se insere na dinâmica social.

 

Cleide Diamantino, secretária da Mulher Trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores- CUT Tocantins e militante da Consulta Popular, que é uma organização política e de movimento popular de cunho socialista, fundada em 1997 por militantes de 350 movimentos populares atuantes no Brasil, comentou sobre a importância de debater a conjuntura estadual e nacional para a vida das mulheres negras. “É necessário organizar essas mulheres para enfrentar o próximo período que temos em frente, levando em consideração todo desmonte proposto pelo atual governo que vai impactar diretamente a vida das mulheres, sobretudo das mulheres negras”, disse.

 

“Vinhemos nesses últimos dois anos perdendo direitos é importante que nos mantenhamos na luta para que não haja deficiências nas políticas públicas, pois os direitos da população negra são os primeiros a serem destruídos, por isso é necessário que nos mantemos atentos”, enfatiza Karol Chaves, advogada popular e professora.

 

Maria Aparecida Ribeiro de Sousa, quilombola do povoado do município de São Felix e integrante da Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Tocantins, relata que a construção deste evento no estado começou em 2015. “Este evento é muito importante e não adianta irmos para Goiânia sem discutir as demandas com a nossa base.

A organização das mulheres negras que tem o cunho de luta pela igualdade racial tem se organizado pelo momento obscuro que atinge as organizações de base progressistas. Numa entrevista com Juliana Gonçalves, repórter do Brasil de Fato[1], e atuante na construção da Marcha de Mulheres Negras de São Paulo e da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (COJIRA), há a afirmação de que “a gente vive num momento obscuro, de falta de democracia, de recrudescimento do racismo, de retrocessos em políticas públicas. Aqui em São Paulo, por exemplo, a Casa da Mulher Brasileira, que funciona como a Casa 8 de Março, da ativista feminista Bernadete Aparecida Ferreira que deveria inclusive, atender muitos casos de violência, e em termos de saúde integral da mulher, é um projeto que ficou parado, desde que o Dória assumiu. As políticas para as mulheres foram sucateadas e desmontadas”, lamenta jornalista.

A violência em todos os sentidos contra a mulher tem feito com que as organizações de luta de direitos se reorganizem para cobrar do Estado políticas que lhes assegure as conquistas que foram adquiridas ao longo dos anos. “ A violência transborda isso, e hoje vivemos violências vindas do estado. Quando nossos corpos não são respeitados, quando nos é negado o direito ao aborto legal e seguro, quando encarceram mais facilmente os corpos negros. E o encarceramento de mulheres subiu quase 400%, e delas sabe-se que 70% são mulheres negras. Então as violências são múltiplas, e muitas delas, são justamente, desmontes de políticas que poderiam nos tirar dessa situação de vulnerabilidade que vivemos hoje”, enfatiza.

 

Maria Aparecida, aqui no Tocantins tem o mesmo sentimento, ela destacou a necessidade que as mulheres negras quilombolas têm em poder falar e expor as suas angústias e este espaço proporciona esse lugar de fala.  “Nós mulheres quilombolas quando estamos só entre nós conseguimos desabafar e mobilizar a mulher negra para sua realidade a de que está no último estágio da sociedade hierarquizada, nos motiva a estarmos juntas, lutando por uma proposta de descriminalização para a mulher no país”, salientou, Ana Lúcia Pereira, professora do curso de Direito na UFT e militante.

 

O Encontro Estadual de Mulheres Negras do Tocantins é preparatório para o “Encontro Nacional de Mulheres Negras 30 anos contra o racismo, a violência e pelo bem viver: mulheres negras movem o Brasil”, que ocorrerá nos dias 6, 7, e 8 de dezembro de 2018, na cidade de Goiânia. Na ocasião foi eleita a delegação composta por 25 mulheres que estarão em Goiânia, representando o Tocantins.

[1] Informações disponíveis: http://koinonia.org.br/

 

 

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Um Projeto de Pesquisa e Extensão idealizado para as atIvidades práticas de reportagem, produzido com a participação dos acadêmicos do curso de jornalismo da UFT.

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